Como os resíduos sólidos urbanos (RSU) influenciam as mudanças climáticas?
Antes mesmo de se tornar um resíduo, qualquer produto passa por processos industriais de transformação, desde suas matérias-primas até sua utilização pelo consumidor. Portanto, há emissões de GEE ao longo de todo o ciclo de vida do produto.
Ciclo de vida: etapas de desenvolvimento do produto, desde a obtenção de matérias-primas e insumos até a manufatura, o consumo, o descarte e a valorização que permite o retorno de materiais ao processo produtivo.
O processo de gerenciamento de RSU é passível de gerar impactos ao meio ambiente principalmente no que diz respeito às alterações sobre a atmosfera no âmbito global. A figura a seguir exemplifica algumas etapas do gerenciamento dos RSU e suas potenciais emissões e fontes geradoras de energia.
Crédito da imagem: Marcelo Ronald Lucena da Silva
Os principais GEE emitidos ao longo do gerenciamento de RSU são o CO2 (dióxido de carbono), o CH4 (metano) e o NOx (óxidos de nitrogênio). O metano é proveniente da decomposição anaeróbia no tratamento por digestores e na disposição em aterros, e os óxidos de nitrogênio provêm do tratamento biológico, da compostagem e da incineração.
As etapas de transporte e disposição final representam a maior parcela de geração de GEE do setor. Numa escala global, o setor de resíduos contribui pouco para as emissões de GEE, representando 3% a 5% do total de emissões antropogênicas em 2005, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - UNEP.
No Brasil, o setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2019, o setor foi responsável pela emissão de cerca de 96 milhões de toneladas de CO2 e, um discreto aumento (1,3%) em relação ao ano anterior. Do total apresentado, a maior parte da contribuição está associada à disposição de resíduos sólidos em aterros controlados, lixões e aterros sanitários (65%), seguida pelo tratamento de efluentes líquidos domésticos (26%), tratamento efluentes líquidos industriais (7%), incineração ou queima a céu aberto (2%) e, com menor contribuição, o tratamento biológico por meio de compostagem (<1%).
No caso dos aterros sanitários, os GEE continuam sendo emitidos mesmo depois do encerramento das operações, ou seja, mesmo depois de o aterro não estar mais recebendo os rejeitos. Isso decorre do lento processamento das reações químicas e bioquímicas, podendo levar anos até a total degradação dos resíduos.
Como proteger o clima a partir da gestão de RSU?
O setor de resíduos tem a capacidade única de deixar de ser uma fonte geradora de GEE e se transformar no principal setor apto a poupar essas emissões, por ter um potencial de curto a médio prazo para a implementação de medidas que reduzam as emissões de GEE.
Com a abordagem da gestão integrada de RSU, as emissões de GEE podem ser poupadas em toda a cadeia produtiva – desde a extração de matérias-primas, passando por manufatura e transporte, até chegar ao consumidor. Práticas como a não geração de resíduos e o aumento da reciclagem podem levar indiretamente à redução das emissões de GEE, pois evitam a fabricação de novos produtos, economizando assim energia e recursos.
O aterro sanitário é considerado um método de disposição final. As emissões de metano são geradas pela decomposição das frações orgânicas presentes no RSU. Representa a maior fonte de impacto do setor de resíduos para o aquecimento global. GEE emitidos: CH4 e CO2.
A captura dos gases por um sistema de tubulação pode levá-los até uma estação de tratamento. Nela, os gases podem ser queimados a fim de emitir apenas o CO2, que é menos nocivo ao aquecimento global, ou aproveitados como fonte de energia térmica ou elétrica.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) são os principais instrumentos que contêm as diretrizes e recomendações necessárias à implementação da PNRS e da Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB). Se implementadas, essas políticas podem contribuir para evitar ou reduzir as emissões de GEE:
- induzindo a compostagem da fração orgânica dos RSU;
- gerando energia por meio do aproveitamento dos gases provenientes da biodigestão de compostos orgânicos e dos gases provenientes de aterros sanitários e estações de tratamento (biogás);
- reduzindo os resíduos recicláveis em aterros;
- diminuindo a geração de resíduos sólidos.
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