Em cada local onde realiza uma determinada atividade, seja nas residências, seja nas ruas ou em estabelecimentos comerciais, a população gera resíduos. A composição desses resíduos é influenciada por fatores como hábitos alimentares, cultura, tradições, estilo de vida, clima e local.
Todo resíduo gerado deve ser acondicionado de forma apropriada para ser recolhido pelo serviço de limpeza urbana. A qualidade da operação de coleta de resíduos depende do acondicionamento, armazenamento e disposição adequados dos recipientes no local, dia e horários estabelecidos para a coleta.
A população tem participação ativa na tarefa de acondicionamento dos resíduos.
O acondicionamento adequado é importante para:
- evitar acidentes;
- evitar a proliferação de vetores;
- minimizar o impacto visual e olfativo;
- reduzir a heterogeneidade dos resíduos (no caso de haver coleta seletiva);
- facilitar a coleta.
A coleta é a operação de recolhimento dos resíduos onde eles são gerados (residências, estabelecimentos comerciais e vias públicas) e seu transporte até uma estação de transferência ou triagem, ou diretamente até a etapa de tratamento.
A coleta pode ser feita de forma convencional (também chamada de indiferenciada), quando os resíduos não são separados previamente), ou diferenciada, quando a comunidade faz essa separação. A coleta diferenciada é, portanto, uma coleta seletiva de materiais segregados nas fontes geradoras, conforme sua constituição ou composição. Esse tipo de coleta é o mais recomendado e adequado para o tratamento de resíduos que seguirão para reciclagem.
Por que a coleta seletiva é importante?
A separação adequada dos resíduos facilita o direcionamento para a reciclagem, pois garante a qualidade do material. Além disso, possibilita condições de trabalho mais salubres, já que seu manuseio se torna mais seguro.
A coleta seletiva pode ser realizada porta a porta, quando os caminhões de coleta recolhem os resíduos recicláveis em cada residência e estabelecimento, ou então por pontos de entrega voluntária. Tais pontos consistem em contêineres ou recipientes instalados em locais públicos para que a população descarte os materiais previamente separados.
A coleta seletiva com inclusão socioprodutiva compreende iniciativas em que os municípios promovem a retirada de catadores dos lixões e das ruas e apoiam sua organização em associações ou cooperativas que atuam em parceria com o poder público.
Os municípios são obrigados a implementar a coleta seletiva, em todo o seu território, com a prioritária integração dos catadores. Aqueles que fazem essa integração têm prioridade de acesso aos recursos da União.
Os resíduos recicláveis são separados para que sejam coletados de forma diferenciada. Os materiais recicláveis mais visados para a coleta e comercialização são plástico, papel e papelão, sucata metálica (alumínio, aço, estanho), vidro e garrafas PET.
Segundo a legislação nacional (CONEMA 55/2013), a coleta seletiva pode ser simples ou multisseletiva.
Coleta seletiva simples é a coleta dos resíduos previamente segregados em dois tipos (recicláveis e rejeitos) ou em três tipos (recicláveis, orgânicos e rejeitos, quando houver sistema de compostagem). Há um padrão de cores para designar cada resíduo ou rejeito:

Coleta multisseletiva é a coleta efetuada segundo a tipologia dos resíduos sólidos recicláveis, quando é feita a sua segregação na fonte geradora.

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As estações de transferência são unidades instaladas próximas à região onde são gerados os resíduos, para que os caminhões de coleta depositem os resíduos e retornem rapidamente para completar seu roteiro.
Normalmente, essas estações são instaladas quando a distância entre o local de geração de resíduos e o aterro sanitário é superior a 25km. Em grandes cidades, onde as condições de tráfego rodoviário tornam extremamente lentos os deslocamentos, é possível encontrar estações a menos de 20 km do aterro sanitário.
Nas estações de transferência, não existe tratamento dos resíduos. Eles só são acumulados e transferidos para um caminhão maior, com cerca do triplo da capacidade do caminhão de coleta, que os transportará até o local de tratamento.
No caso do gerenciamento dos resíduos recicláveis, o ponto intermediário da cadeia logística é a estação de triagem. Nessa estação, os resíduos são separados e encaminhados para as usinas de reciclagem.
A estação de triagem é equipada com sistemas de catação, manual ou mecanizado, para que o material seja criteriosamente separado e, posteriormente, prensado. Por fim, ele é estocado e transportado em fardos.

As unidades de triagem participam da cadeia produtiva da reciclagem de resíduos como uma etapa intermediária entre a coleta seletiva e a reciclagem propriamente dita. Com isso, fornecem às indústrias recicladoras um resíduo segregado, limpo e beneficiado, aumentando a eficiência dos processos.
As cooperativas de catadores atuam nesse serviço de triagem separando os materiais que serão vendidos para cada empresa recicladora. Uma empresa que recicla vidro, por exemplo, só vai comprar os fardos separados de vidro, e assim por diante.
Se houver mistura de materiais ou contaminação dos materiais por algum outro fator, é possível que as empresas recicladoras não aceitem a compra, por isso é tão importante a separação bem-feita.
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O tratamento de RSU compreende uma série de procedimentos físicos, químicos e biológicos antes de sua disposição final sobre o solo. Seu objetivo é reduzir a poluição do meio ambiente e promover o beneficiamento econômico.
Quando um determinado tipo de tratamento tem o objetivo de produzir energia para alimentar um sistema, ou quando um sistema de tratamento é energeticamente autossustentável, ele é denominado waste-to-energy.
A adoção de determinada forma de tratamento implica a separação prévia dos resíduos, com base em coleta diferenciada. Sem essa coleta, não haverá resultados efetivos do tratamento ou do sistema.
A compostagem é um processo biológico em que micro-organismos decompõem a matéria orgânica contida no RSU de forma aeróbia (com presença de oxigênio). Esse processo tem como resultado final um produto, o composto orgânico, que pode ser usado como adubo ou fertilizante, retornando ao solo como matéria prima.
Esse é um método simples, seguro, pronto para ser utilizado no cultivo de plantas, tanto em pequena (doméstica) quanto em média (comunitária, institucional) ou grande escala (municipal, industrial). No entanto, necessita ser bem compreendido e bem operado para evitar problemas como a geração de odores e a proliferação de vetores de doenças.
Dois parâmetros são essenciais para a compostagem:
- Aeração, necessária para a atividade biológica e, em níveis adequados, para a decomposição da matéria orgânica; e
- Teor de umidade, que depende da granulometria (tamanho dos resíduos), da porosidade (existência de espaço entre os grãos de resíduo) e do grau de compactação dos resíduos.
São potenciais vantagens da compostagem:
- aumento da vida útil do local de disposição final de resíduos;
- promoção do aproveitamento agrícola da matéria orgânica pelo uso de composto orgânico no solo;
- exigência de pouca mão de obra especializada;
- possibilidade de gerar renda com a comercialização do composto.
São potenciais desvantagens da compostagem:
- exigência de uma separação eficiente de resíduos e um tempo de processamento que pode chegar a seis meses;
- necessidade de mercado para revender o composto (caso feita em larga escala);
- risco de contaminar o meio ambiente e comprometer a qualidade de vida quando mal operada;
- necessidade de área relativamente grande para a operação das leiras para maturação dos resíduos (caso feita em larga escala).
A digestão anaeróbia é um processo de decomposição da matéria orgânica por micro-organismos em condições de ausência de oxigênio. Nesse processo, é produzido o composto orgânico e também o biogás, formado basicamente por CO2 (gás carbônico ou dióxido de carbono) e CH4 (metano). O biogás possui elevado potencial de queima (alto poder calorífico) e, por isso, pode ser utilizado como combustível em diversos sistemas, como motogeradores que alimentam a própria instalação.
São potenciais vantagens da digestão anaeróbia:
- geração de produtos valorizáveis: biogás (energia e calor) e composto orgânico;
- maior geração de biogás devido às condições controladas de umidade e temperatura dos digestores;
- redução de até 50% no volume de resíduos.
São potenciais desvantagens da digestão anaeróbia:
- variação na composição dos resíduos a depender da localização (zona de geração) e da estação do ano, podendo comprometer o processo e, consequentemente, a qualidade do biogás e do material digerido gerado;
- necessidade de etapa posterior (como compostagem) para bioestabilizar o composto orgânico;
- dificuldade na operação do sistema, principalmente em termos de obstruções de canalização;
- necessidade de mão de obra qualificada para a operação e o monitoramento da planta.
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O tratamento térmico de RSU envolve a queima do material em altas temperaturas por meio de incineração, gaseificação e pirólise. A gaseificação é o processo de reação com o vapor e a pirólise é um processo complexo que ocorre na ausência de oxigênio.
Na incineração, que é o processo mais comum, os resíduos são submetidos a uma temperatura acima de 800 °C, em uma mistura de ar adequada, por determinado intervalo de tempo. Eles são decompostos em três fases: uma sólida inerte (cinzas ou escórias), uma gasosa e uma quantidade mínima líquida.
A incineração é indicada para quantidades médias de RSU (mais de 160.000 t/ano ou 240 t/dia), sempre se trabalhando com linhas médias de produção de 8 a 10 t/h e no mínimo uma linha trabalhando 8.000 h/ano.
As cinzas, subprodutos do tratamento térmico, constituem uma matéria não combustível e são encaminhadas para disposição final.
São potenciais vantagens da incineração:
- redução significativa do volume de resíduos;
- potencial de recuperação de energia superior à dos aterros;
- necessidade de menor área para instalação;
- redução da emissão de odores e ruídos.
São potenciais desvantagens da incineração:
- elevados custos de instalação, operação e manutenção do tratamento dos resíduos;
- inviabilidade de produção em caso de resíduos com umidade excessiva, com pequeno poder calorífico ou com presença de clorados.
Nesta forma de tratamento, há uma etapa mecânica, em que os resíduos recicláveis são separados e encaminhados para reciclagem, e uma etapa biológica, em que é tratada a fração orgânica dos resíduos. Este tipo de tratamento é muito comum na Europa e na Austrália, mas no Brasil ainda está incipiente.
Na etapa mecânica, conta-se com equipamentos como ímãs industriais, esteiras e trituradores, além da triagem manual. Já a etapa biológica pode se dar via compostagem ou digestão anaeróbia.
Nesse tipo de tratamento, a trituração do RSU permite preparar o Combustível Derivado de Resíduos - CDR (ou refuse derived fuel, RDF), que pode ser utilizado como combustível. Os principais beneficiários desse material são os fornos de cimento e as centrais de energia elétrica.
O mais importante na produção de CDR é a recuperação de energia e a otimização da logística (transporte e armazenamento) dos resíduos. O CDR deve ser composto por materiais de maior potencial calorífico e não deve possuir frações de contaminação crítica (por exemplo, metais pesados) nem substâncias orgânicas críticas (substâncias halogenadas, medicamentos ou resíduos infectados, por exemplo), pois essas frações críticas geram um CDR de má qualidade.
A reciclagem consiste no aproveitamento, no beneficiamento e na transformação de resíduos recicláveis (tais como papéis, plásticos, vidros e metais) em produtos comercializáveis por meio do seu retorno à indústria produtiva.
São potenciais vantagens da reciclagem:
- preservação de recursos naturais;
- desenvolvimento de novos mercados e promoção da economia circular;
- fortalecimento das cooperativas de catadores;
- redução de insumos nos processos industriais;
- geração de trabalho e renda;
- conscientização da população para as questões ambientais.
Quando se esgotam as possibilidades de tratamento, ou seja, quando podem ser considerados rejeitos, os RSU devem receber um destino final.
Embora ambos visem evitar riscos ou danos à saúde pública e à segurança e minimizar os impactos ambientais adversos, é importante diferenciar os conceitos de destinação final e disposição final. Destinação é a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético de resíduos. Disposição, por sua vez, é a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas.
Em 2015, foram registrados 30 milhões de toneladas de resíduos dispostos em lixões no Brasil, representando 41,3% dos resíduos totais coletados. No país, 3.326 municípios ainda fazem uso desses locais impróprios.
Aterro Sanitário
O aterro sanitário, além de local de disposição final dos rejeitos, pode ser considerado uma tecnologia de tratamento de resíduos. Isso porque ocorre nos aterros um conjunto de processos físicos, químicos e microbiológicos que têm como resultado uma massa de resíduos química e biologicamente mais estável.
Nessa tecnologia, o chorume e o gás metano são coletados em sistemas próprios de captação. O chorume é direcionado para uma estação de tratamento; e o metano, para um aparelho denominado flare, que promove sua queima e consequente transformação em gás carbônico.
Em um aterro sanitário, os RSU são dispostos sobre o terreno natural, por meio do seu confinamento em camadas cobertas com material inerte em uma área chamada de célula. A área das células de resíduos é coberta na conclusão de cada jornada diária de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.
A captação dos gases – ou sistema de drenagem de gases – constitui componente mínimo de um aterro sanitário. Com esse sistema, visa-se evitar incêndios e explosões, tendo em vista a inflamabilidade do metano.
São potenciais vantagens do aterro sanitário:
- possibilidade de utilizar áreas já degradadas por outras atividades (por exemplo, uma área utilizada como pedreira);
- capacidade de receber e acomodar rapidamente quantidades variáveis de resíduos, sendo bastante flexível;
- custos de investimento e operação menores que de outras tecnologias;
- operacionalização simples, não requerendo pessoal altamente especializado;
- possibilidade de aproveitamento energético do biogás.
São potenciais desvantagens do aterro sanitário:
- necessidade de grandes áreas, muitas vezes, longe da área urbana, acarretando despesas adicionais com transporte;
- potencial desenvolvimento de maus odores;
- possibilidade de deslocamento de poeiras;
- diminuição do valor comercial da terra;
- interferência da meteorologia na produção de chorume, que requisita tratamento adequado;
- período pós-fechamento relativamente longo para a estabilização do aterro;
- necessidade de controle dos riscos de impacto ambiental de longo prazo.
Não se esqueça: o aterro é um sistema de recebimento final dos rejeitos, sendo a última etapa do gerenciamento dos resíduos!